A Razão por que Gostamos de Possuir Coisas
Um estudo conduzido pela Globescan numa população de mais de 31 países e ao longo de três anos concluiu que apenas 20% das pessoas estão motivadas a alugar ao invés de comprar, resultados que diferem consoante o tipo de produto em questão e a geografia do próprio país.
O mesmo estudo concluiu também que um terço dos consumidores estão dispostos a comprar em segunda-mão, 57% estão interessados em trazer e utilizar as suas próprias embalagens aquando das compras e 58% estão prontos para privilegiar artigos com materiais reciclados, tendo sido também identificados aumentos significativos no aluguer de roupa e entretenimento, com as plataformas de disponibilização de música, séries e filmes a liderar o mercado. Mas a aparente necessidade de possuir constitui um bloqueio ao acesso a estes serviços e necessita de ser equacionada no caminho que se pretende trilhar em direção à circularidade.
Por economia circular entende-se um mercado no qual os produtos entram, assim que são descartados são separados nos seus elementos básicos, que voltam novamente a fazer parte da cadeia de produção de novos produtos. Este modelo prevê a reutilização ou compostagem de todos os materiais utilizados, removendo assim a necessidade de extração de tantos (ou idealmente nenhuns!) recursos naturais novos ao planeta e promove uma drástica redução de resíduos. Este modelo aplicado à escala global envolve grande mudanças, no entanto, pode e deve ser aplicado numa escala local e em atos simples, como por exemplo através da reutilização de embalagens aquando de compras a granel.
A necessidade de possuir é algo imbuído desde a Antiguidade na cultura ocidental. Já Aristóteles considerava que os cidadãos se manteriam mais racionais e membros produtivos da sociedade enquanto fossem motivados pelo seu desejo de possuir. Este sentimento começa cedo, com a ligação do bebé com o seu cuidador, e evolui com a idade, estando comprovado que na nossa idade sénior os objetos são conectados com a memória de certas vivências, criando uma ligação emocional com os mesmos de tal forma que se gera vontade de os passar para as gerações futuras.
Ainda muito há a fazer por parte dos criadores de serviços para tornar o modelo de aluguer mais acessível e motivador para o consumidor. Contudo, da nossa parte, também há trabalho para cumprir. Devemos, cada vez mais e por uma ótica de consciência económica e financeira, analisar o verdadeiro uso que iremos dar a todos os objetos que pretendemos e compreender se faz sentido comprá-los ou beneficiar de um serviço de aluguer. Nunca perdendo o foco na ótica da redução, de artigos, de necessidades sem verdadeiro fundamento e de resíduos, poupando assim recursos naturais e a carteira.
Compreendendo que esta noção de propriedade nos acompanha desde os primórdios da História, cabe-nos desconstruir este conceito e adequá-lo à realidade da urgência dos tempos em que vivemos, para que todos possamos ter vidas confortáveis, mas adequadas aos recursos em extinção do nosso planeta.
Se o tema da circularidade lhe desperta interesse e gostava de aprender um pouco mais sobre o mesmo, e ter acesso a informação sobre os avanços empreendidos nesta matéria, recomendamos uma visita à plataforma da Fundação Ellen MacArthur.
Fotografia de Maria Ziegler da plataforma Unsplash.