Ação Climática: Tome Conta da Sua Saúde Mental
Muitos de vocês podem perguntar-se: “Mas afinal o que tem a ver a ação climática com a saúde mental?”. Na realidade, tudo. Sintomas como a ansiedade, a depressão e o sentimento de culpa estão intimamente ligados à ação climática. E com a COP26 a decorrer consideramos ser adequado falar sobre este tema.
Acreditamos que todos os que, como nós, reconhecem que um futuro para a Humanidade apenas será possível se medidas urgentes forem tomadas por todos (governantes, empresários e cidadãos comuns), podem sentir-se frustrados, deprimidos, tristes e até enraivecidos com a inércia dos acontecimentos perante a potencial catástrofe que todos os dias se aproxima.
Não somos especialistas em saúde mental, nem pretendemos sê-lo. Apenas nos apoiamos nos inúmeros estudos que vão surgindo sobre os impactos das alterações climáticas na saúde mental dos cidadãos de todo o mundo.
De acordo com os investigadores que propuseram a metodologia das 52 Ações Climáticas foram já efetivamente correlacionados com as alterações climáticas três efeitos adversos na saúde: ansiedade, trauma e burnout.
A ansiedade climática pode surgir quando nos apercebemos de que as alterações climáticas são reais e que provocam verdadeiros e irremediáveis resultados. Nesse momento é perfeitamente normal e saudável sentir culpa (pela extinção de espécies, pela falta de ação comunitária e até mesmo individual), mas a mesma não pode sobrepor-se às restantes emoções. É necessário encarar o problema detetado e analisar o que é possível fazer para ajudar a combatê-lo. Nem todos podemos instalar painéis solares, ou cultivar todos os alimentos que consumimos, mas todos podemos contribuir de alguma maneira (consulte o site das 52 Ações Climáticas e dedique-se a cumprir uma). De ressalvar que, quando este sentimento de ansiedade climática é demasiado intenso ou sente que não o consegue ultrapassar sozinho, não deve sentir vergonha de procurar ajuda. No mundo há milhares de cidadãos na mesma situação, junte-se a grupos e comunidades que sentem as mesmas preocupações, procure um especialista em saúde mental, escolha o que melhor se adapta a si, mas não deixe de o fazer.
O trauma surge quando as alterações climáticas provocam diretamente dano. Alguns exemplos podem ser cheias, tempestades violentas e incêndios descontrolados que provocam a perda de habitações, conhecidos ou familiares. Encontra-se comprovado que após estes acontecimentos a depressão, a ansiedade, o consumo de substâncias, a violência e até os episódios de suicídio aumentam. É difícil superar traumas sem acompanhamento, o auxílio de grupos específicos e profissionais adequados, é assim, fundamental.
Burnout tal como definido por Herbert Freudenberger é a "ausência de motivação ou incentivo associado ao esforço concentrado em alguma tarefa ou relação não ter surtido o efeito esperado". É normalmente associada aos cidadãos que trabalham arduamente em prol da ação climática e que vêm os seus esforços desperdiçados. Os sintomas incluem alienação, frustração, cinismo, negatividade, desconexão emocional, dores de cabeça e estômago, fadiga acentuada, dificuldade de concentração e de criação. Este efeito de burnout não é permanente e a sua resolução passa por: encarar que o que sente é real, partilhar com colegas as emoções presentes e solicitar por exemplo: a adaptação de tarefas de modo a reduzir a sua quantidade ou responsabilidade, uma mudança total nas tarefas realizadas ou até uma pausa no trabalho.
A saúde mental está assim totalmente associada às alterações climáticas e os efeitos podem ser sentidos por qualquer um de nós. Não menospreze a sua saúde mental, pois é fundamental para todas as restantes componentes da vida, junte-se a todos os cidadãos do mundo que sentem o mesmo.