Guia para cidades amigas dos polinizadores
Como já demos conta em publicação anterior o tipo de agricultura que desenvolvemos está a impactar negativamente as populações de insetos nos nossos territórios, nomeadamente os polinizadores onde se incluem, na Europa, abelhas, sirfídeos, borboletas, traças, besouros e algumas espécies de moscas, fundamentais para a propagação das culturas necessárias à nossa alimentação, para a manutenção dos espaços verdes e da nossa saúde e bem-estar geral.
Neste sentido a ICLEI Europe elaborou um guia (1) para auxiliar a transformar as nossas cidades amigas dos polinizadores e contribuir para os esforços da sua conservação a nível global, uma vez que os espaços urbanos podem constituir um refúgio para muitos insetos sob a forma de local de alimentação e nidificação.
Este documento propõe que os decisores políticos: assumam um compromisso formal de proteger e restaurar habitats de polinizadores, desenvolvam uma Estratégia ou Plano Local para os Polinizadores e integrem as preocupações sobre polinizadores nos planos urbanos e nas políticas setoriais. As recomendações sugeridas no guia pormenorizam temas como: a exploração e canalização de recursos financeiros, o fomento da cooperação com outros setores, a garantia de compromissos e a promoção da investigação e formação sobre polinizadores.
Os autores do guia convidam os autarcas a usar a sua influência como quadros superiores para promover o desenvolvimento de uma visão amiga dos polinizadores para a sua cidade, garantindo que todas as partes interessadas relevantes são envolvidas e que indivíduos pró-ativos na administração da cidade são inseridos nos grupos de trabalho, com o objetivo de os dinamizar e promover o trabalho interdepartamental.
Para os técnicos de planeamento e gestão do território os autores sugerem que iniciem os trabalhos nas cidades com o mapeamento de habitats e redes de habitats de polinizadores, quer existentes quer potenciais. Consequentemente esta ação terá duas respostas: proteger o estado natural, selvagem, das paisagens polinizadoras existentes ou restaurar, criar e conectar habitats de polinizadores.
O guia é voltado para a importância do papel dos municípios no alcance de uma verdadeira política de conservação destas espécies, uma vez se encontram mais próximos da conceção e gestão do espaço urbano e das comunidades locais e têm um papel fundamental na sensibilização dos cidadãos.
Consideramos o documento, apesar de especializado, suficientemente claro para que todos os cidadãos interessados por estas temáticas o possam ler e compreender as medidas que deveriam ser postas em prática para proteger os polinizadores que habitam as nossas cidades e que exemplos foram adotados noutras cidades do mundo, uma vez que o guia se encontra repleto de ideias, sugestões e casos atualmente em vigor em variadas cidades da Europa.
É também possível através deste guia deixarmos algumas recomendações para o leitor com hábitos de jardinagem e que agora se encontra a pensar: mas então e o que posso fazer eu?
Pode fazer muito e eis o que é necessário compreender para começar:
- os insetos polinizadores precisam de: pólen (para que as fêmeas desenvolvam ovários e alimentem os seus filhotes); flores e árvores ricas em néctar que fornecem a energia para o voo e para alimentar insetos adultos (como por exemplo, as borboletas) e áreas ricas em ervas para alimentar as larvas;
- se pretende plantar a sua quota parte de plantas que atraem insetos: escolha plantas autóctones pois está comprovado que funcionam melhor como ponto de atração destas espécies, selecione flores ricas em pólen e néctar e que os forneçam continuamente de março a setembro;
- posicione no seu jardim de flores um “hotel de abelhas” ou “tijolos de abelhas” para criar habitats de nidificação.
Se achar que pode ser complicado escolher quais as melhores plantas ou soluções não deixe esmorecer os seus esforços. Desloque-se a um centro de jardinagem especializado ou viveiro, explique o que pretende fazer e peça os melhores conselhos.
Todos tempos sempre um papel a desempenhar e preencher as nossas varandas, terraços, jardins e terrenos com flores ou plantas silvestres vai contribuir seguramente para esta causa que é tão nobre e é de todos.
Da mesma forma que somos nós, humanos, que estamos a prejudicar estas espécies também temos que ser nós a permitir que se recuperem. Faça parte deste movimento pela conservação dos polinizadores.
(1) Wilk, B., Rebollo, V., Hanania, S. 2019. A guide for pollinator-friendly cities: How can spatial planners and landuse managers create favourable urban environments for pollinators? Guidance prepared by ICLEI Europe for the European Commission.